O que estamos a viver é único! Mas não foi sempre assim? Andamos estes dias um pouco ao sabor do vento, do vento das informações que vemos na televisão, tentando ser criteriosos na decisão de em que acreditar, do vento das opiniões das pessoas que amamos tentando não ofender ninguém com a nossa própria opinião, do vento das alterações de humor que o tempo meteorológico nos impõe que tanto chove torrencialmente, como dois minutos depois está um sol radiante, que vamos à janela “respirar” o sol como um golfinho que vem à tona de água buscar o ar, e nesse instante recomeça a chover. Isto deixa-nos inquietos, inseguros, instáveis e com momentos de emoção fortes, que se ao mesmo nos faz acreditar num futuro melhor, numa cura, numa modificação da humanidade, na transformação das pessoas em pessoas melhores… também nos traz uma sensação de fim de mundo. Tentamos não ser pessimistas radicais, nem otimistas utópicos, tentamos equilibrar-nos num limbo que nos deixa confortavelmente “fixos”, ao contrário de aproveitar a dança, que todas estas mudanças constantes, nos traz. Será que essa solidez que acreditamos existir no nosso emprego, na nossa casa, na nossa saúde existe mesmo? Será possível essa estanquicidade? Ou será melhor aceitarmos que “Nada é fixo nem permanente?”. Mais uma vez balançamos entre a inflexibilidade que nos dá a estrutura, e na flexibilidade que nos dá a liberdade, entre a rigidez que nos parece suficientemente sólida para nos proteger, e a maleabilidade/versatilidade da dança que nos traz momentos únicos de felicidade. Mas dançar conforme a música também nos deixa inseguros, quando nos aparecem os pensamentos como, e quando a música acabar? Qual a música que virá a seguir? Será que vem outra? Valerá a pena pensar na música que vem a seguir, e perdermos esse estado de não estarmos presentes, que nos leva a acabar por não viver o futuro, pois quando este chegar, passa a chamar-se Presente, esse que insistimos em não aproveitar focados em mais futuro, que quando damos por isso já se transformou numa memória. Um ciclo, uma espiral, uma circunferência, uma esfera, um caminho incerto, pergunto o que muitos já perguntaram, adianta pensar num lugar que não existe, ou viver este mesmo fazendo dele o melhor que sabemos à data? Só temos o dia de hoje, importa ter planos claro, importa ter sonhos óbvio, mas não adianta colocar nesses sonhos uma importância maior que o sonho de viver o dia de hoje, com um sorriso e com a consciência que pode mesmo ser o nosso último, porque acima de tudo, este é único e irrepetível, porque A única coisa fixa é a mudança. Ichigo-ichie*
*A expressão japonesa Ichigo-ichie foi usada pela primeira vez há meio milénio, pelo criador da tradicional cerimonia do chá, e pode ser traduzida como “o que estamos vivendo agora não se repetirá nunca mais”. o Ichigo-ichie ressalta que estamos vivos e que, por isso, devemos aproveitar plenamente todas as nossas experiências. Valorizar cada momento, conscientes de que ele nunca se repetirá da mesma forma. “Na época da dispersão absoluta, da falta de escuta e da superficialidade, há uma chave capaz de abrir as portas da atenção, da harmonia e do amor à vida. Essa chave se chama Ichigo-ichie.”