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A Vontade de Lutar Entre Quatro Paredes

Já houve dias em que tivemos a oportunidade de voar, em que saíamos porta fora e era o vento quem se encarregava de nos conduzir, em que tínhamos o descaramento e o atrevimento de reclamar porque “estava muito sol”, ou porque “a chuva não acalmava”. E agora? Tentamos bronzear-nos com as luzes da cozinha, pomos a mão pela janela e os pingos de chuva que nos caiem na pele são como doses de cafeína que nos fazem despertar para uma realidade inacreditável. Invejamos as folhas das árvores que se soltam e pairam pelo ar, invejamos os pássaros que voam livremente, sentimos de forma psicológica o bom que era sentir os picos de energia que a relva nos transmitia aos pés nus.

Estamos presos entre quatro paredes e agrafámos a nossa alma a documentos oficiais de desespero. Vamos para as redes sociais e incorporamos todos os filtros e mais alguns, sorrimos esperançosos sempre, mas por detrás de uma imagem a cores previamente partilhada, encontram-se sentimentos a preto e branco que ninguém consegue pintar. Temos medo! Mal conseguimos respirar. A realidade caiu e despedaçou-se como um cristal. Fizemos planos para a vida e estragamos os planos que a vida tinha para nós. Temos a extrema vontade de lutar contra tudo e a maior parte das vezes contra nós mesmos, queremos matar os monstros que nos assombram, dia e noite. Temos e queremos constantemente encher o copo, mas sentimos que ele já está furado. A energia de um acordar já não é a mesma e agora já mal chegamos às persianas.

Embutiram-nos, a viver num casulo fechado, trancados no silêncio de pensamentos. Pessoas que vivem do espetáculo transmitem diretos online e dão-nos réstias de esperança, artistas desanimados, a arte estagnada. Somos obrigados a fazer teatro, e a fazer arte através de um ecrã, olhamos para uma câmara de um computador e os nossos olhos são o espelho de um bloqueio artístico, mas continuamos a fazê-lo porque acreditamos em nós, porque acreditamos na nossa arte e sobretudo porque lutar está-nos no sangue. Lutamos por aquilo que acreditamos. Não temos a menor ideia do que vai acontecer e vivemos na tentativa de nos apoiarmos em nós mesmos. As lágrimas já secaram nas almofadas noturnas de sonhos profundos.

Continuaremos à espera, com a mesma força e com a mesma vontade de lutar de sempre. Continuaremos a respirar. Continuaremos a criar. Continuaremos a amar. Continuaremos a ser. Continuaremos a viver…

Guilherme Moreira, 2020
Estudante do IDS


IDSA Vontade de Lutar Entre Quatro Paredes

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